Afinal, o tijolo ecológico pode reduzir o impacto ambiental negativo de minha construção?

Você está pensando em construir e tem uma preocupação: como minha construção vai impactar o meio ambiente? Se você tem esta preocupação, quer seja você engenheiro, arquiteto, pedreiro, construtor ou mesmo o cliente final, em primeiro lugar, parabéns por sua preocupação e saiba que ela é realmente derivada de um problema real e sério.

Segundo o Relatório de Gestão de Resíduos Globais 2015, feito pelo Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP), os resíduos de construção e demolição representam 36% dos resíduos de todas as fontes de geração de resíduos nos ciclos de vida dos materiais e produtos. Ou seja, mais de 1/3 dos muitos bilhões de toneladas de resíduos gerados mundialmente provêm de resíduos de construções e demolições. É um número impressionante e, muitas vezes, negligenciado.

Então, como minimizar a minha parcela nesta conta e, ao mesmo tempo, satisfazer a necessidade humana de uma habitação adequada, quer seja para moradia primária ou para um local de lazer, também necessário para a vida humana de qualidade? Sim, em primeiro lugar, há que se considerar que não existem construções sem a geração de impactos ambientais. Assim que, as opções de repensar, reutilizar, reciclar devem ser consideradas, até mesmo em construções. Porém, caso a construção seja a saída mais adequada, podemos tomar medidas para amenizar os danos que elas podem causar, atuando como agentes de transformação de forma conjunta.

Neste sentido, os tijolos ecológicos podem ser um elemento importante na redução dos resíduos de construção. A parte da alvenaria representa um dos elementos mais pesados em uma construção. Uma parede em alvenaria com revestimento dos dois lados chega a pesar mais de 1.300 kg por metro linear de parede em uma casa térrea (WATANABE, 2022). Já uma parede com tijolos ecológicos de solocimento, pode reduzir o peso em até 20%, ao retirar a necessidade de revestimentos (chapisco, emboço, reboco etc.). Redução de cimento, cal, areia, água e outros materiais, além de menos sujeiras que se transformam em resíduos de construção. Também, economia na mão de obra, que além da economia em dinheiro, também é economia de energia dispendida pelo ser humano na construção. Isso também tem impacto ambiental.

Além da redução do impacto ambiental em paredes, são diversos outros elementos na obra que podem ser considerados: menor uso de tábuas de madeira, menor uso de ferragens, possível redução de fundações (pelo menor peso da construção) entre outros elementos. Também, no uso da casa construída, o maior conforto térmico dos tijolos ecológicos pode reduzir necessidade de uso de equipamentos de ventilação ou arrefecimento (DUNEL, 2020). Outro impacto importante, positivo!

Agora, em termos do próprio produto, o tijolo ecológico de solocimento. Como o próprio nome diz, ele é produzido com solo, cimento, além de água e outros elementos. Embora haja o uso do cimento em sua produção, cuja indústria representa 5% de todas as emissões globais de CO2, vale salientar que somente na faixa de 12 a 18% da composição do peso de um tijolo ecológico é de cimento. Além disso, existe uma redução significativa de uso de cimento na obra pela retirada dos revestimentos como chapisco, reboco e emboço, além da quantidade significativa menor de massa de assentamento e, principalmente, enorme redução nas vigas e colunas de concreto. 1 m² de parede com os tijolos ecológicos terão aproximadamente 25 kg de cimento em sua composição.

No entanto, a maior vantagem vem do processo produtivo de próprio tijolo ecológico. Ela dispensa a queima em seu processo de fabricação, ou seja, o tijolo ecológico evita a liberação de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, que em altas quantidades, é um dos responsáveis pelo aquecimento global (LIMA, GUTJAHR e PONTES, 2021). Segundo a Agência Nacional da Indústria do Tijolo Ecológico – ANITECO (2019), estima-se que para cada mil tijolos ecológicos fabricados, de sete a doze árvores de porte médio são poupadas. Outro fator levado em consideração é o solo natural, é necessário que a jazida seja ambientalmente legalizada para esta atividade.

Em 2021, foram coletados pelos municípios brasileiros mais de 48 milhões de toneladas de resíduos de demolição e construção (ABRELPE, 2022), porém, em obras realizadas com o tijolo ecológico evitam-se desperdícios, visto que, na execução do projeto estrutural determina o tamanho dos cômodos (largura e comprimento) podendo ser ajustados às dimensões do tijolo. Com isso, obtêm-se vantagens de consumir menos material por sua própria fisionomia que apresenta encaixe entre as peças e facilita o assentamento, seus furos facilitam a instalação elétrica e hidráulica sem a necessidade de quebrar tijolos. Os furos ainda podem ser utilizados como elementos estruturais, pois, possibilitam a colocação de armadura e concreto sem a necessidade de fôrmas, economizando, assim, madeira e mão de obra.

Além do cuidado com o meio ambiente que o tijolo ecológico pode oferecer, não podemos deixar de comentar da satisfação pessoal que pode proporcionar, tendo como benefício o isolamento térmico, ao qual nos dias mais frios a temperatura interna é mantida mais elevada que o ambiente externo, e no calor proporciona uma sensação de frescor (FIAIS e SOUZA, 2017).

Sempre que fizer uma compra, o consumidor consciente pode levar em conta questões como o meio ambiente, havendo um consenso entre satisfação e sustentabilidade, priorizando as empresas empenhadas em oferecer produtos que respeitem o planeta. Ao comprar um produto, em se tratando de uma construção, é importante observar sua origem, fabricação, buscando um equilíbrio entre a satisfação pessoal e benefícios ao meio ambiente.

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Referências:

ABRELPE. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2022. Disponível em https://abrelpe.org.br/download-panorama-2022/. Acesso em 15 dez. 2022.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO TIJOLO ECOLÓGICO (ANITECO). O Tijolo Ecológico. Disponível em: https://www.aniteco.org.br/o-tijolo-ecologico/. Acesso em 15 dez. 2022.

DUNES, M. P. Avaliação do desempenho térmico de tijolos ecológicos em Aracaju/SE por meio de simulação computacional. Dissertação apresentada ao Programa de Pós=Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Sergipe, 2020.

FIAIS, B. B.; SOUZA, D. S. de. Construção Sustentável Com Tijolo Ecológico. Revista Engenharia em Ação UniToledo, Araçatuba, SP, v. 02, n. 01, p. 94-108, jan./ago. 2017. Disponível em http://ojs.toledo.br/index.php/engenharias/article/view/2559. Acesso em 15 dez. 2022.

LIMA, W. F. de; GUTJAHR, A. L. N.; PONTES, A. N. Impactos ambientais provenientes das atividades de olarias nas regiões brasileiras. Environmental Scientiae. v 3 n. 2 (2021). Disponível em https://doi.org/10.6008/CBPC2674-6492.2021.002.0002. Acesso em 05 dez. 2022.

UNEP. Global Waste Management Outlook. Programa Ambiental das Nações Unidas. 2015. Disponível em Global Waste Management Outlook 2015 – Knowledge Sharing Platform (uncclearn.org). Acesso em 13 jan. 2023.

WATANABE, R. M. Quanto pesa uma casa. Disponível em https://www.ebanataw.com.br/roberto/fundacoes/peso.htm. Acesso em 05 dez. 2022.

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